sexta-feira, julho 07, 2006

Reflexões parte II



Eu estava lendo mais um capítulo do meu livro-eletrônico predileto (como vcs bem sabe, “A vida escrita a mão”), quando me deparei com um post que me intrigou e mexeu comigo.

Não porque tenha sido direcionado para mim, até porque o mesmo foi postado em 2005, quando eu nem mesmo tinha a idéia da existência desse blog. Mas de certa forma me atingiu em cheio.

O post na verdade não partiu da Márcia (para quem ainda não sabe, ela é a escritora do livro tão comentado), mas sim de Mary, outra blogueira amiga dela. Já tinha ouvido, ou melhor, lido sobre ela, mas nunca tinha lido seu blog “Montanha-Russa”. Até o dia de hoje. Li o post que gerou o post da Márcia e que agora está gerando meu. Complicado de entender? Será? Acho que nem tanto, é o mundo das idéias atravessando fronteiras físicas e virtuais e gerando reflexões e pensamentos.

Bom, o tema do post era a intromissão de pessoas em blogs, com comentários íntimos inesperados, comentários de totais desconhecidos, que se acham no direito de expor suas idéias sem ao menos pedir licença.

Interessante, não acha? Digo interessante, porque é uma incoerência expor toda ou parte de sua vida na internet (sem fronteiras, sem limites, sem ideologias, sem respeito, sem privacidade) e esperar uma resposta totalmente contrária. Esperar que se tenha sigilo, educação, polimento social, enfim, limites.

Antes que um afoito tire conclusões apressadas e me julgue, me faço explicar: concordo com ambas, Márcia e Mary, (então se acalme e continue lendo!)

Realmente deve ser muito estranho alguém chegar dentro de “sua casa” (entenda-se blog), não bater na sua porta, entrar e começar a te julgar ou te agradar ou te sugerir coisas, sem ao menos saber quem tu és, o que fazes ou o que pensas.

Assim como deve ser estranho para essas pessoas compreender porque colocaste uma placa de “Bem-vindo, a casa é sua” e depois não gostar da visita.

Contradições.

Sim. Contradições dos seres humanos. Não sabemos bem o que queremos então entramos em conflito. Hora queremos ser ouvidos, queremos opiniões, queremos participações. Mas na medida que elas vem, já não nos servem, nos afrontam, nos assustam, nos invadem.

“Afinal, quem te deu o direito de entrar na minha vida? De se achar minha amiga íntima? Nem te conheço, vamos de vagar com o andor”. Foi o que a Mary disse em outras palavras. E concordo. Quem sou eu para julgar ou me apresentar como a pessoa mais intima do mundo, de alguém que conheço (mal e porcamente) apenas por meio eletrônico?
Mas, de certa forma, abrimos essa porta. Convidamos a todos a participarem de nossa vida quando optamos por divulgá-la na internet. E ai que está a maior contradição. Passamos a querer privacidade e respeito. Não queremos que, estranhos sem a menor noção de espaço e tempo, passem a fazer parte de nossa vida. Queremos escolher. Poder dizer: “hey, vc é especial e pode participar comigo nessa aventura chamada vida” ou “Se manca meu filho, tu é um Zé mané que não entende de nada. Não gosto de sua opinião e não gosto dos teus gostos, então pleeeeeeease não apareça mais!!”. Queremos fazer escolhas como na vida real, porque, afinal, não gostamos de todas as pessoas que cruzam na nossa frente, porque gostaríamos de todos que cruzam nossos blogs?

Baita (sim, sou gaúcha, como podem perceber) aprendizado esse que está por vir. Conciliar convidados e intrusos. Isso, porém, é um assunto para um outro post...

- “Blá, blá, blá. Ok. Mas até agora, não disse porque que o post te acertou em cheio?”

Simples. Mais simples do que parece. Fiquei com medo. Fiquei com medo de ter esse mesmo sentimento de invasão ou pior de ser a invasora. De ultrapassar o limite da minha privacidade e atropelar a vida de outras pessoas, com minhas idéias. De me fazer presente quando não sou necessária, de não perceber o quanto posso e o quanto devo expor da minha vida.
Essas perguntas, por enquanto, não têm respostas. Por enquanto desbravarei esse mundo desconhecido, e eu não me refiro ao blog, refiro-me a minha alma. A alma contraditória que quer por pra fora tudo e ao mesmo tempo quer ficar bem quietinha escondida no lugar mais seguro que existe: o silêncio!
see ya,