Antônio Prado
O almoço foi simples, mas bem caseiro e saboroso: tortéis, salada de rúcula, tomate, cenoura, ovinho de codorna. Tudo vindo da horta, sem nenhum “veneno”, como fizeram questão de frisar nossos anfitriões. Polenta bem molinha. Daquelas feitas de farinha de milho de primeira. Queijo colonial a milanesa. Galinha caipira (dessa, devo confessar, não gostei muito) ensopada. Pão sovado. Tudo regado a muito suco de uva natural e vinho da colônia Peninha, que acabamos não tirando nenhuma foto das nossas refeições.
Claro que depois de uma refeição como essas, tínhamos que aproveitar o silêncio do paraíso e “tirar uma sonequinha”, antes de nos aventurar pela “grande” cidade. Deitamos em lençóis que estavam cheirando a amaciante. Que delícia!
Acordamos lá pelas 4 horas da tarde (isso mesmo! Sem compromisso foi nosso lema!) e fomos direto percorrer as casas históricas tombadas pelo patrimônio histórico. O bom de cidadezinha pequena é que dá pra conhecer tudo, sem precisar percorrer milhas e milhas. A primeira casa que visitamos foi a “Casa da Neni”. Por razões óbvias, acabei gastando um pouco mais do que esperado em artesanato local. Mas não foi nem a metade do que gostaria de ter gasto. A parte engraçada, foi eu pagando um gorila ao perguntar para a balconista se ela aceitava cartão. Ela sorriu e muito simpática me informou que dificilmente eu conseguiria pagar qualquer coisa em cartão na cidade. É isso aí...Ou se paga em dinheiro ou em cheque. Cartão? Na, nan, nan, não! Tuuddddo bem. Então vou ter que sacar um pouquinho de dindim. Tem Bradesco? Não! Tem Itaú? Não! Então tá, então. Vou me limitar ao budget da carteira. Agora dá para entender, porque não comprei tudo o que queria, certo?
Atravessamos a praça central da cidade e fomos parar na outra casa da madeira. Confesso que não me impressionei no primeiro instante. Me pareceu apenas uma amostra de fotos antigas da cidade. Só que logo, logo essa impressão desapareceu. Nossa guia emprestada nos contou de toda a evolução da cidade, nos explicou o que eram “as casinhas religiosas” que havíamos visto pelo percurso. Que na verdade se chamam Capitéis e são pequenos locais de oração que a comunidade construía para rezar, já que o percurso até a Matriz era penoso e longo. Explicou que os italianos sempre foram muito religiosos e os capitéis eram os registros dessa fé. Atualmente existem 21 capitéis espalhados pela cidade. Nós só conseguimos visitar 3, pois os mesmos estão espalhados por toda zona rural, o que dificulta o acesso. Também não existe nenhum mapa com as localizações corretas. Lembrei muito da Giorgia e de sua bonita fé ao tirar fotos deles.
Visitamos mais casas tombadas que com exceção da farmácia vimos apenas à fachada. Depois visitamos a Gruta Natural. Dizem que tem mais de 1 século e que é obra total da natureza. Com todos que conversamos, sempre o mesmo comentário surgia: “Desde que me conheço por gente, nunca vi aquela fonte secar. Nem nos anos mais cruéis de seca, aquela fonte secou!”. Fonte com água limpinha e muito gelada. Lugar para rezar com uma energia incrível e uma paz imperturbável.
Interior da Farmácia com movéis e pinturas originais
E como ninguém é de ferro, já que fazia uns 37 ºC a sombra, fomos ao supermercado local (que aceitava cartão, ora vejam!) e nos abastecemos de latinhas de cervejinha gelada para nos acompanhar pela caminho de volta. Paramos para tirar fotos de uma flor lindíssima que está por toda parte. (Mais tarde descobrimos que era, nada mais, nada menos, do que Lírio do Campo!). Como estávamos literalmente no meio do nada foi muito engraçado e de certa forma muito bom, quando um motoqueiro local parou para perguntar se estávamos “empenhados” e se precisávamos de ajuda. Sorrimos e agradecemos informando que estávamos apenas tirando uma foto. Coisas de cidade do interior, onde a gentileza, a educação e a preocupação com o próximo ainda persistem, apesar de tanta violência.
Olhai os lírios do campo
Chegamos na nossa cabana e fomos direto sentar na “sacadinha” para conversar e ver a o movimento enlouquecido das galinhas d’angola. Um show a parte com cerveja hic quer dizer hic com certeza. Hehehehe. Nunca vi coisa igual. Ficam correndo muito rápido uma atrás da outra, ou melhor, um atrás do outro, já que são os machos que fazem essa maratona dos animais. São verdadeiros atletas! Tanto que não consegui tirar uma fotinho se quer dessas peças únicas, pois elas não paravam 1 segundo. Uma pena, pois são uns bichinhos pra lá de bonitinhos e engraçadíssimos.
Para terminar a noite um jantarzinho com bife a milanesa, salada, pão sovado, sopa de feijão, polenta na chapa, vinho, queijo colonial, salaminho, suco de uva, caipirinha de cachaça de alambique com funcho e de sobremesa amendoim doce. Humm delícia.
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