Coelhinho da Páscoa o que trazes para mim?
Lembro de um tempo em que eu esperava o coelhinho com ansiedade normal de toda criança; de esperar o domingo de Páscoa em baixo das cobertas, pois naquele tempo o frio chegava junto com os ovinhos.
Lembro de guardar os melhores chocolates para comer mais tarde e, quando o mais tarde chegava, perceber que meus irmãos haviam “assaltado” minha cesta.
Lembro das brincadeiras e esconderijos que meus pais planejavam pra gente.
Impossível esquecer também daquelas páscoas mais simples devido à falta de grana, mas nem por isso menos encantadoras; de ter recebido uma vez apenas uns sorvetinhos de marshmallow que vinham com uns brinquedinhos de plástico e também de ver a tristeza nos olhos de meus pais por não poderem nos dar o que desejávamos. Lembro de querer arrancar aquela tristeza deles, pois o mais importante estava ali.
Lembro das pegadinhas pintadas pela minha mãe por toda a casa. E de ficar “matutando” como é que eles conseguiam comprar os ovos sem que percebêssemos, quando ir ao supermercado era uma tarefa familiar.
E como não lembrar dos filmes antigos, como Ben Hur, que sempre passavam na televisão e que por mais que tivéssemos visto 1 milhão de vezes, ainda assim assistíamos mais uma vez.
E a bacalhoada? Como não sentir o seu cheiro e seu gosto ainda hoje? Meu pai adorava fazê-la a Gomes de Sá, com muita batata e azeitona. Ou então em épocas mais contidas, um peixe assado com muito recheio e um pirãozinho com um camarãozinho ali outro acolá.
E não posso deixar de rir quando me recordo de uma Páscoa que minha mãe encomendou ovos maciços e careiros. O chocolate era tão duro e impossível de quebrar que acabou ficando congelado para usar em mousses, durante um ano inteiro!
Lembro que meu avô adorava ganhar caixa de bombons de Páscoa. E que secretamente vinha e me oferecia a mesma para que eu pudesse escolher um bombom antes que ele escondesse a mesma de todos.
E que as caixas de bombons vinham com aqueles de frutas: banana, ameixa, uva, que eu detestava, mas que meu sempre comia.
Lembro que meus pais compravam para eles caixa de Bis e diziam que aquelas eram para eles, mas que no final acabavam sempre dividindo com a gente.
São tantas as lembranças. Tantas alegrias. E tantas saudades de tudo que já se foi.
Eu me pergunto, agora com meu filho, que lembranças ele terá? Terá ele irmãos para compartilhar esses momentos? Terá ele saudade, assim como eu? Será que saberá a importância desse convívio familiar? E que um dia sentirá saudades de tudo isso? Será?